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Quando rir torna-se um remédio amargo.
São dores do existir que provém de perdas das pessoas que amamos, de sonhos não realizados, de amizades que se foram pelo mundo, de famílias infelizes e dos dissabores do cotidiano de uma nação distópica e alucinada.
Então o humor nos transporta para uma dimensão de esquecimento ou então desprovida de realidades duras e cruas, que costumam ser incineradas pelo fogo da genialidade do humor, que transforma lágrimas e apreensões em risos revigorantes que nos fazem levitar.
Então em tempos de liberdade e democracia nos deparamos com fazedores de humor da contemporaneidade. Novos humoristas com novos conceitos e abordagens. Esses novos profissionais do riso operam dentro de uma ótica onde tudo é válido, tudo mesmo, desde que se possa fazer rir. Aí então o encantamento desmorona, pois, fazer rir pressupõe ser inteligente o suficiente para não gerar desconforto ou sofrimento mental em grupos de maioria minorizadas como mulheres, negras e negros, deficientes, idosos, jovens e crianças.
O labor do fazer rir é louvável e necessário, desde que não se utilize do estupro de crianças e adolescentes. Desde que não remeta os negros aos tempos abjetos da escravidão, desde que não se acene com as bandeiras do capacitismo, etarismo, machismo e homofobia.
O que estamos assistindo atualmente é um show de horrores em alguns palcos brasileiros. Negros foram citados por peso em arrobas, assim como que durante a escravidão não havia desemprego e outras citações sobre pedofilia me reservo não comentar.
A legislação brasileira, que não foi redigida nem votada pelo PT, diz que essas aberrações chamadas de comédia, são crimes e como tal devem ser punidas. A civilização, destarte o suave retorno à barbárie que estamos passando, não pode permitir que pessoas grupos sociais sejam aviltados e machucados por qualquer tipo de profissional pervertido e desumano, que em prol de aplausos e dinheiro promove desgraças no âmago de seus “semelhantes”.
O debate está pegando fogo nas redes sociais quando a partir da sentença de uma juíza o “comediante” Léo Lins foi condenado a 8 anos de prisão e o pagamento de pesadas multas reparatórias.
Há um imenso levante por parte dos humoristas brasileiros contra a sentença proferida. Embarcando no bonde do oportunismo, a extrema-direita da política nacional levantou seus estandartes contra o Judiciário (como sempre faz quando é do seu interesse) alegando a defesa da liberdade de expressão.
O conceito de liberdade de expressão passa de boca em boca como um mantra libertário. Porém provém de lábios que entoam cânticos de louvor à ditadura militar e à volta dos militares ao poder com o consequente fechamento do Congresso Nacional. Pessoas que defendem a tortura e a execução sumária de nacionais em conflito com a lei, defendendo a promoção de um golpe militar com a instalação de um estado de sítio com total restrição de liberdade. São essas pessoas que agora falam em liberdade! Falam em democracia e pasmem, clamam por justiça.
A impressão que se tem é que o Brasil está passando por um período lisérgico onde o surrealismo social está suplantando a lógica do normal. Em seu livro Genealogia da Moral Nietzsche fala da “Moral dos Senhores” e a “ Moral dos Escravos”, onde os dois contingentes defendem seus valores em uma dialética por vezes piegas mas que contém o substrato do ideário judaico-cristão com seu colossal arcabouço de culpas e penalizações.
Em meu espírito vaga uma interrogação de maneira constante, que me instiga e ao mesmo tempo incomoda, quando inutilmente tentar desvendar o porquê das plateias sorrirem. Sim, as pessoas sorriem com vontade ao ouvir tamanhas monstruosidades perpetradas pelo "monstro da lagoa"? Que coisa abjeta! Que feio! Como seres humanos se dispõem a pagar para assistir esse circo de horrores?
O futuro do Brasil? Hoje parece difuso, pois as camadas ultraliberais que controlam o Congresso Nacional e o Presidente da República, permanecem impávidas, como nuvens temerosas e sombrias, em nosso horizonte político, impedindo a assunção do sol da verdadeira liberdade.